Viagem às raízes dos clubes portuenses
in A Bola 26/06/09, Germano Almeida

De onde vem esta enorme propensão da cidade do Porto para criar clubes? Em cada zona da cidade, em cada bairro, quase em cada esquina, há uma colectividade desportiva, um emblema, um grupo recreativo, uma associação.

Germano Silva, jornalista, escritor, amante do Porto, tem vários títulos publicados sobre a história da Invicta.

O lado bairrista das gentes do Porto é, para Germano Silva, a chave para se perceber este fenómeno: «No Porto houve sempre uma ligação muito ao lugar de origem, à nossa rua, ao nosso bairro. Os portuenses têm orgulho no lugar onde moram e gostam de torná-lo visível», aponta, em conversa com A BOLA.

A organização urbana que marcou o crescimento da cidade ajuda a explicar esta enorme multiplicação: «No Porto sempre houve muitas ilhas, pequenos bairros, onde todos se conhecem. Vivi muitos anos numa ilha, sei do que estou a falar. Raro era o dia em que não havia barulho, uma discussão entre vizinhos, mas quando uma família tinha uma dificuldade séria, um problema grave, todos ajudavam. Ora, é este espírito solidário e popular que se transporta para a criação de pequenos clubes de bairro, que se espalham um pouco por toda a cidade».

SOLTEIROS E CASADOS

A componente desportiva é uma escolha natural de uma cidade que foi sempre muito virada para o futebol e tantas outras modalidades. Mas houve outras formas de exteriorização dessa veia associativa: «Foram-se formando grupos de teatro e conjuntos de excursionistas, que se juntavam e visitavam três ou quatro cidades, até onde o dinheiro chegasse...»

O grande momento colectivo é a noite de São João, uma «impressionante demonstração de afectividade e espontaneidade», aponta Germano Silva.

«Nas rusgas sanjoaninas, com sede nas Fontainhas, a Meca do São João, revelam-se também muitas colectividades, com forte cariz recreativo e algumas delas, também, desportivo», refere este amante da história do Porto. «Alguns desses grupos tinham nomes muito curiosos: recordo-me, por exemplo, de 'Os Tripeirinhos do Bem', 'Nós vamos, elas ficam', 'Os bairristas do Palácio'...»

Os jogos de amadores, entre «solteiros e casados», entre «colegas de ofício», entre «vizinhos», marcaram gerações no município tripeiro e são, para Germano Silva, «a expressão mais genuína da vocação desportiva da cidade do Porto».

NUMA ERA PRÉ-TELEVISÃO

Germano Silva recorda clu-bes como «o Progresso, o Ramaldense, o Cruz, o Francos, tantos outros... Quem for ver o campo do Cruz, por exemplo, terá uma surpresa, pois ele está exactamente como era há 50 anos. De alguma forma, até parece que o tempo parou...» E revela: «Eu próprio joguei à bola, nos juniores do Boavista. Era guarda-redes, mas trabalhava ao mesmo tempo e não pude fazer carreira».

O lado «humilde», «trabalhador» e «operário» das gentes do Porto marcou a vivência de uma cidade durante décadas e décadas. E moldou-lhe a identidade: «Pelos anos 30, em bairros como aquele em que eu morei, havia só um rádio. Mesmo quando apareceu a televisão, durante anos e anos não havia dinheiro para comprar um televisor. O desporto era um dos principais passatempos. Eram outros tempos, havia rivalidades, mas também uma grande generosidade e solidariedade. Era um futebol verdadeiramente popular...», comenta o escritor.

TENDÊNCIA DECRESCENTE

Em meados da década de 90, o município do Porto chegou a ter 668 clubes ou agremiações desportivas, valor ao qual se poderiam ainda juntar perto de duas centenas de associações de carácter recreativo. Na última década e meia, esse valor tem vindo a reduzir-se, naquilo que aparenta ser um reflexo da clara quebra de poder económico da região do Porto.

Com menos apoios por parte dos poderes públicos (nacionais e locais) e uma menor margem para arriscar a nível da iniciativa privada, os últimos anos têm apontado uma indesmentível tendência decrescente da pujança desportiva do Porto.

Os casos de Boavista e Salgueiros são os exemplos mais visíveis do problema, embora a tentativa de recuperação já iniciada pelo Salgueiros e a inscrição dos axadrezados na II Divisão mostrem, também, que há uma base popular importante para se acreditar que este não é um caminho sem retorno.

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1 Response
  1. camapaco Says:

    UM ANO DE PARTICIPAÇÃO
    "Quem perde os seus bens, perde muito; quem perde um amigo, perde mais; mas quem perde a coragem, perde tudo"

    É fácil de entender que com este simples e digno pensamento e após um ano de participação no futebolar que o SALGUEIROS E A MINHA CIDADE DO PORTO se sintam atingidos por esta manifestação.

    A cidade do Porto perdeu um dos seus bens quer do ponto de vista fisico quer do ponto de vista social, cultural e desportivo. E esse bem tem um nome: SPORT COMÉRCIO E SALGUEIROS. Logo a cidade perdeu um dos seu bens
    A cidade do Porto e os portuenses perderam um amigo com o SALGUEIROS a ser decepado e mutilado em praça pública e se a cidade perdeu um amigo, a cidade perdeu mais.
    Mas curioso é que quer a cidade quer o SALGUEIROS não perderam a coragem, porque a ALMA DOS DOIS EXISTE, logo, não se perdeu tudo.
    Ainda, recentemente, numa leitura assídua que faço aos comentários desse Professor e escritor de seu nome HELDER PACHECO, dizia como titulo: - A ALMA DA CIDADE.


    Ao longo do seu primoroso texto dizia o prof. Herder: - " ...como dizia uma ribeirense que não abdica da ufania de ser tripeira, esta gente calma e respeitadora. A senhora Ribeirense, era humilde, pobre, mas mesmo com cara de fome, se a pisassem ou a ofendessem, não se ficava e revoltava-se contra as injustiças"


    Ao ler esta pequena mas imensa e nobre verdade, dou comigo a comungar uma nova ideia que de tão verdadeira invade as margens do verdadeiro rio Douro e banha a cidade porque nos toca na alma:

    "Quem conheceu na Ribeira

    os homens duros de outrora

    Concerteza tem saudade

    da Baixa desta cidade

    Tão diferente, ela é agora"


    E mais longe não muito longe, referia: " Claro que a Ribeira não morreu" NÃO MORREU PORQUE É A ALMA DA CIDADE.


    Quero aproveitar este texto para cumprimentar e agradecer a todos em geral o terem compreendido ao longo destes 12 meses o apreço e o carinho que sempre dedicaram ao SALGUEIROS.

    E manifestar o primeiro comentário que recebi do 1º texto que postei com o aparecimento do Salgueiros:

    - "Ora aqui está uma noticia que nos devemos orgulhar" (Carlos Daniel)

    Autor: camapaco a 26 Setembro 2009 - 15:20 mau artigo Categorias: - Partilhar artigo
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