in Lusa 25/09/08, Alberto Peres

Porto, 25 Set (Lusa) - O Sport Comércio e Salgueiros pretende dar um abanão na crise em que mergulhou nos últimos anos com a revitalização do futebol sénior, como força agregadora dos seus sócios e simpatizantes.
O objectivo imediato da Comissão Administrativa do clube de Paranhos, que vai reaparecer a competir na 2ª Divisão da AF Porto sob a designação de Sport Clube Salgueiros 08, é "controlar os problemas financeiros antigos".

"Não contrair mais dívidas e cumprir religiosamente com todos os compromissos" é, de acordo com Sousa Ribeiro, sócio número 395 e elemento da Comissão Administrativa, o lema pelo qual se rege o Salgueiros.
Sem património e com dívidas acumuladas superiores a nove milhões de euros, entre Fisco, Segurança Social, ex-jogadores e credores, a luta pela subsistência do Salgueiros afigura-se titânica e de enorme dificuldade.

O Salgueiros é um clube que sobrevive com a "casa às costas", dada a quase inexistência de património, uma vez que o campo de Vidal Pinheiro já não existe e a sede administrativa deixou a Rua Álvares Cabral.
"Não fazia sentido continuar a pagar renda e a manutenção do edifício, pelo que entregámos a casa ao senhorio e o atendimento passou a ser feito nas instalações do Bingo", disse à Agência Lusa Sousa Ribeiro.
O Bingo, que funciona em instalações alugadas, no antigo cine teatro Trindade, constitui a principal fonte de receita do histórico clube de Paranhos, que conta com cerca de 1.500 indefectíveis sócios pagantes.

A escassos metros do local onde se situava o túnel de acesso ao relvado de velhinho Vidal Pinheiro, palco de muitas emoções e feitos do Salgueiros, existe presentemente o acesso à estação de metro de Paranhos.
Uma muralha de degraus vermelhos e brancos da antiga Superior, debaixo da qual funcionam alguns serviços do clube, resiste ainda na paisagem, bem como um rectângulo sintético para a prática de futebol de sete.
O clube utiliza o que resta do desmembramento do Estádio Vidal Pinheiro por simpatia e consideração da Normetro, empresa proprietária dos terrenos onde se encontra a estação de metro de Paranhos.

A preparação dos escalões de formação do Salgueiros decorre não só no improvisado e desabrigado sintético, como espalhada um pouco por alguns recintos vizinhos, em particular na "casa emprestada" do Senhora da Hora, em Matosinhos.
O facto de jogar sempre fora não assusta o clube de Paranhos, que considera mais importante estabilizar num bom local de treino do que investir num campo, utilizado de 15 em 15 dias e de elevada manutenção.

O ambicioso projecto do Complexo Vidal Pinheiro, em Arca d'Água - que iria servir de casa para o Salgueiros - não passou disso mesmo e o terreno, depois de arrestado pelos credores, foi dividido e levado a hasta pública.
Também as taças e troféus do clube foram levados a hasta pública, mas a garantia da sua salvaguarda foi dada sob a forma anónima de um sócio que, através de uma funcionária do clube, arrematou o lote por 10 mil euros.
O espólio do Salgueiros, a maior parte do qual guardado em caixotes, pertence ao sócio anónimo, mas as taças e troféus mais significativos podem ser observadas na sala que serve de sede nas instalações do Bingo.

O Salgueiros não é só futebol e a atestar isso mesmo está a hegemonia da equipa de pólo aquático, que em 2006 se sagrou campeã nacional pela 12ª vez consecutiva, título que perdeu em 2007 e recuperou em 2008.
Também o andebol, em vários escalões, desportos radicais e o atletismo - com destaque para a conceituada Volta a Paranhos - ocupam um espaço significativo na história do Sport Comércio e Salgueiros.