Três anos sem o espaço de 90 minutos semanais para extravasar a paixão que só o clube do coração proporciona, criam desânimo, desencanto e desmobilização.
Foi de pé atrás que uma boa parte dos salgueiristas foram aderindo à necessidade de um novo nome, um novo emblema e até uma cor única que substituiu o vermelho e branco. E foram aderindo, porque o projecto de renascimento de futebol cativava. Conduzido por salgueiristas, com salgueiristas e com uma equipa com genes S.C. e Salgueiros de esforço e dedicação, recebendo quase nada e dando tudo o que tinham e o que não tinham. O espírito abnegado e o carácter profundamente amador criou uma empatia única com quem os acompanhou. Uma margem de erro ampla com tolerância total… uma alegria genuína e transbordante pelo regresso aos campos que suplantava toda e qualquer crítica.
O sucesso nestas condições e com contornos dramáticos quase cinematográficos, começou a criar os sonhos.
Ultrapassou-se a alegria genuína do regresso, exacerbada pelos 3 anos de ausência, e começou-se a sonhar. Sonhar porque o plantel era reforçado, porque mantinha a base do ano passado e porque éramos o Salgueiros! A compreensão latente pelas dificuldades do renascimento foi substituída pela ambição. Ambição essencial para um projecto que se quer ganhador, mas que terá que ser realista e não desmedida.
Os jogadores podem e devem sonhar chegar mais longe, mais alto e até mais além. Os adeptos podem e devem sonhar com a I Liga. Não podem é acreditar que em 7 anos o Salgueiros estará lá sem dificuldades ou soluções. A ambição não pode ser inebriante ao ponto de turvar a leitura da realidade. O sonho deve comandar a vida, mas não se pode, nem deve, tornar a vivência de quem tenta construir o sonho num pesadelo diário de tensão e conflitualidade.
Qualquer salgueirista dos 1 aos 35 anos… pelo menos, só viu o Salgueiros jogar para o 1.º lugar em 3 ou 4 ocasiões … e uma delas foi o ano passado, já como 08. Os restantes anos o nosso Salgueiros jogava para não perder sempre e evitar descer de divisão. Esta é a história (recente) do Salgueiros. E não deixamos de ser salgueiristas! Descemos à II Honra e não deixamos de ser salgueiristas! Descemos à IIB e perdemos os jogos quase todos e não deixamos de ser salgueiristas! Deixamos de ter futebol e não deixamos de ser salgueiristas! O cenário actual é diferente… é um Salgueiros 08 nos campeonatos Distritais. Mas não é o seu nome ou a sua história que lhe irão garantir subidas sucessivas em caminhadas triunfantes e sem dificuldades. O nome do Salgueiros fica constrangido num campeonato distrital, algo espartilhado numa fatiota apertada, mas será que as condições actuais do clube não estarão ao nível dos distritais? Em termos de estruturas e condições até bem abaixo dos seus concorrentes directos?
Será que esta realidade nos retira o direito de ser ambiciosos? Claro que não. Será que nos dá a obrigação de ganhar todos os jogos e ser campeões durante 6 anos seguidos até à primeira Liga? Não parece possível… Será que o grau de exigência actual é compatível com as condições reais de sucesso? Provavelmente não.
Dizem-nos com frequência e acintosamente que não temos nada. Na realidade temos pouco de palpável mas temos alguma coisa. Temos um nome, temos uma história e temos adeptos, e estes últimos já fizeram a diferença em tantas ocasiões, não podem agora fazer a diferença pela negativa.
Os salgueiristas não podem discutir a pedra na calçada e parar de olhar para o horizonte. Infelizmente as discussões têm sido levadas a extremos complicados e de forma tão generalizada que a influência negativa das mesmas no sucesso da equipa é inevitável… e discutimos cada pedra da calçada… quanto o caminho terá kilómetros e kilómetros. E todos terão que se desenganar se acharem que este trajecto será em linha recta, sempre em toada ascendente.
Teremos tropeções em pedras que nos colocarão no caminho e noutras que não iremos reparar que lá estão, tentaremos seguir atalhos e acabaremos perdidos, teremos por vezes que voltar atrás para retomar o rumo certo… Mas os olhos de todos terão que estar no horizonte. No nosso futuro… que terá que ser construído em conjunto, sem unanimismos, com espírito crítico, mas sem perder a focalização no essencial… e o nosso essencial é que ainda temos que lutar muito para termos um futuro. Para esse futuro ser de sucesso teremos de lutar mais ainda… lutar muito e lutar unidos.
A vida do Salgueiros nunca foi feita de facilidades, de vitórias esmagadoras, de sucessos projectados, sistemáticos ou consecutivos.
O contexto aguçou a ambição, mas não nos pode turvar a razão, nem a capacidade de sofrer… e sofrer em conjunto.
Vamos todos continuar a sonhar. Sonhar colectivamente um futuro. Manter os olhos no prémio final… no nosso horizonte… e olhar para cada pedra na calçada com a sua real importância.
Temos 8 jogos para ganhar nesta época. Amanhã será o primeiro.
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Subscrevo cada linha, corroboro cada pensamento e sempre que utilizei o meu espaço neste blog, tentei passar a mesma mensagem. Nós somos Salgueiristas! Somos capazes de fazer "algo do nada", assim como somos humildes no reconhecimento das nossas fraquezas e na vontade de sermos enormes. Chegou o momento de afirmar que estamos vivos, pois o sangue que corre nas nossas veias tem história, sofrimento, alegrias, conquistas, momentos altos e baixos, mas sempre que foi necessário estivemos lá, soubemos elevar-nos à ocasião, e provar em cada segundo, que a Alma que temos é mais que suficiente para nos fazer merecer "cada pedacinho de terra", cada "milímetro conquistado de campo", cada jogada colectiva, cada ataque preparado, cada golo marcado.
Amanhã eu estou lá, convosco!
Porque a vida tambem e poesia, e o Salgueiros e um poema de amor
Parabens pelo texto emocionante e apaixonado com que é escrito. É um texto mestre de um Salgueirista para todos os salgueiristas de qualquer idade. mesmo para aqules como que atravessaram as bancada e os campos de futebol com a camisola encarnada.
costa
Parabéns pelo conteudo do texto que para além de emocionante é apaixonante e só possivel de o escrever por alguem que vê o Salgueiros com ALMA.
É um presente que abrange os mais antigos como eu e os mais novos que são o futuro do Salgueiros
Costa