in O Jogo 22/08/08, M.S.
Às três e meia da tarde, os treinadores do Salgueiros começam a chegar ao Centro Cultural e Desportivo (CCD) do pessoal da Câmara Municipal do Porto, para uma acção de formação. São 15. Pedro Reis - era só Pedro, nos tempos de jogador - recebe todos com um olhar que sorri. Aos 41 anos, percebe-se ainda melhor como é que este baixinho fez carreira como central: o segredo está na alma, que é maior do que tudo, e essa é a essência do Salgueiros, que do quase nada sempre se fez enorme. Agora, quer crescer outra vez, a partir do mais baixo escalão distrital, a II Divisão. Começar de novo, com um outro clube - Sport Comércio Salgueiros 08, pois as dívidas não permitem ao Sport Comércio Salgueiros inscrever jogadores -, é a forma de renascer da crise. A "fusão dos clubes", no futuro, será o final feliz para a longa crise que, há duas épocas, extinguiu o futebol sénior, dois anos depois da despromoção, pela via administrativa dos campeonatos profissionais.
A crise foi sufocando o Salgueiros até restar apenas a formação, que Pedro coordenava desde que lhe haviam sido propostas tarefas fora do relvado. Ainda se arrepende de ter parado tão cedo, "fazia mais umas épocas", e não imaginava que, depois de uma vida a jogar futebol, o Salgueiros o conquistaria para uma nova paixão. "Quando se começa a trabalhar com a formação, fica o bichinho, fica-se demasiado ligado a isto", diz. "Isto" é o desafio de ver crescer jogadores, que o prendeu. "A minha vida seguiu outro rumo", diz o treinador (curso de II nível) e empresário, que assistiu à agonia dos seniores, que agora se prepara para relançar - sem deixar de apoiar a formação, sublinha: "Nunca o faria, está-me no sangue".
Dos restos do Salgueiros nascerá, com estreia marcada para 28 de Setembro, uma equipa sénior que terá sempre uma "grande percentagem" dos jovens formados no sintético de Vidal Pinheiro, no Viso e no CCD. Para além deles, está a desafiar antigos jogadores, mas o que presidiu a esta aventura foi mesmo a "necessidade de dar uma etapa final ao processo de formação". As camadas jovens foram reestruturadas e os resultados estão à vista: os juniores e os iniciados estão no campeonato nacional e a meta é consolidar os resultados dos mais jovens, enquanto os seniores se organizam. Tudo isto, enquanto se assiste, ali ao lado, no Bessa, à luta pela sobrevivência do Boavista, outro clube do Porto a viver uma história de declínio parecida com a do Salgueiros. São recordistas das dívidas ao Estado e ninguém foi ainda responsabilizado pelo drama imposto a quem vive e sofre os clubes. É a única altura em que a voz pacífica de Pedro se transtorna, quando recorda "a política desportiva" de contas incompreensíveis que ia matando o Salgueiros.
Vinha pede mais reforços
"Até me ri, achei que fosse brincadeira". Não era. Vinha desfruta hoje, aos 41 anos, de uma confiança inesgotável do treinador como, porventura, jamais teve. Ainda que nunca lhe tenha faltado: alto, de remate fácil, o cabo-verdiano deixou grandes recordações aos salgueiristas, em finais da década de 80. Depois, continuou a carreira no Paços de Ferreira, no Imortal de Albufeira, e terminou - ou assim pensava - no Tirsense, em 2001. "É muito tempo", sublinha, para explicar que "não é fácil" o regresso.
Vinha ainda não sabe se o corpo aguentará o campeonato distrital, mas deixou-se seduzir pela ideia de voltar aos treinos. "Ao princípio, não pensei em mim, mas noutros mais novos do que eu. Seria interessante. Se houvesse outros, seria positivo", diz o avançado, que até ao ano passado trabalhava na Exponor (centro de congressos e exposições, em Leça da Palmeira), e está agora a abraçar o primeiro projecto que o fez trocar Cabo Verde por Portugal: o curso superior de Engenharia Civil, cujas cadeiras foram sendo adiadas pelos compromissos profissionais.
Durante anos, o futebol afastou-o da engenhara, mas a persistência prevaleceu, e prepara-se para a última etapa do curso, talvez de novo na companhia da bola. "Vou ver se tenho condições", insiste. "Saudades tenho", garante, e acredita que pode haver outros nas mesmas condições. Seriam bem-vindos ao projecto. De resto, encontrar reforços é o último dos problemas, quando se trata do Salgueiros. Quando se soube que os treinos iam começar, cerca de quatro dezenas de candidatos apresentaram-se na equipa que, a 28 de Setembro, se estreia nos distritais da AF Porto, num jogo com o Paradela. Talvez com Vinha e outras glórias não tão antigas como isso.
Às três e meia da tarde, os treinadores do Salgueiros começam a chegar ao Centro Cultural e Desportivo (CCD) do pessoal da Câmara Municipal do Porto, para uma acção de formação. São 15. Pedro Reis - era só Pedro, nos tempos de jogador - recebe todos com um olhar que sorri. Aos 41 anos, percebe-se ainda melhor como é que este baixinho fez carreira como central: o segredo está na alma, que é maior do que tudo, e essa é a essência do Salgueiros, que do quase nada sempre se fez enorme. Agora, quer crescer outra vez, a partir do mais baixo escalão distrital, a II Divisão. Começar de novo, com um outro clube - Sport Comércio Salgueiros 08, pois as dívidas não permitem ao Sport Comércio Salgueiros inscrever jogadores -, é a forma de renascer da crise. A "fusão dos clubes", no futuro, será o final feliz para a longa crise que, há duas épocas, extinguiu o futebol sénior, dois anos depois da despromoção, pela via administrativa dos campeonatos profissionais.
A crise foi sufocando o Salgueiros até restar apenas a formação, que Pedro coordenava desde que lhe haviam sido propostas tarefas fora do relvado. Ainda se arrepende de ter parado tão cedo, "fazia mais umas épocas", e não imaginava que, depois de uma vida a jogar futebol, o Salgueiros o conquistaria para uma nova paixão. "Quando se começa a trabalhar com a formação, fica o bichinho, fica-se demasiado ligado a isto", diz. "Isto" é o desafio de ver crescer jogadores, que o prendeu. "A minha vida seguiu outro rumo", diz o treinador (curso de II nível) e empresário, que assistiu à agonia dos seniores, que agora se prepara para relançar - sem deixar de apoiar a formação, sublinha: "Nunca o faria, está-me no sangue".
Dos restos do Salgueiros nascerá, com estreia marcada para 28 de Setembro, uma equipa sénior que terá sempre uma "grande percentagem" dos jovens formados no sintético de Vidal Pinheiro, no Viso e no CCD. Para além deles, está a desafiar antigos jogadores, mas o que presidiu a esta aventura foi mesmo a "necessidade de dar uma etapa final ao processo de formação". As camadas jovens foram reestruturadas e os resultados estão à vista: os juniores e os iniciados estão no campeonato nacional e a meta é consolidar os resultados dos mais jovens, enquanto os seniores se organizam. Tudo isto, enquanto se assiste, ali ao lado, no Bessa, à luta pela sobrevivência do Boavista, outro clube do Porto a viver uma história de declínio parecida com a do Salgueiros. São recordistas das dívidas ao Estado e ninguém foi ainda responsabilizado pelo drama imposto a quem vive e sofre os clubes. É a única altura em que a voz pacífica de Pedro se transtorna, quando recorda "a política desportiva" de contas incompreensíveis que ia matando o Salgueiros.
Vinha pede mais reforços
"Até me ri, achei que fosse brincadeira". Não era. Vinha desfruta hoje, aos 41 anos, de uma confiança inesgotável do treinador como, porventura, jamais teve. Ainda que nunca lhe tenha faltado: alto, de remate fácil, o cabo-verdiano deixou grandes recordações aos salgueiristas, em finais da década de 80. Depois, continuou a carreira no Paços de Ferreira, no Imortal de Albufeira, e terminou - ou assim pensava - no Tirsense, em 2001. "É muito tempo", sublinha, para explicar que "não é fácil" o regresso.
Vinha ainda não sabe se o corpo aguentará o campeonato distrital, mas deixou-se seduzir pela ideia de voltar aos treinos. "Ao princípio, não pensei em mim, mas noutros mais novos do que eu. Seria interessante. Se houvesse outros, seria positivo", diz o avançado, que até ao ano passado trabalhava na Exponor (centro de congressos e exposições, em Leça da Palmeira), e está agora a abraçar o primeiro projecto que o fez trocar Cabo Verde por Portugal: o curso superior de Engenharia Civil, cujas cadeiras foram sendo adiadas pelos compromissos profissionais.
Durante anos, o futebol afastou-o da engenhara, mas a persistência prevaleceu, e prepara-se para a última etapa do curso, talvez de novo na companhia da bola. "Vou ver se tenho condições", insiste. "Saudades tenho", garante, e acredita que pode haver outros nas mesmas condições. Seriam bem-vindos ao projecto. De resto, encontrar reforços é o último dos problemas, quando se trata do Salgueiros. Quando se soube que os treinos iam começar, cerca de quatro dezenas de candidatos apresentaram-se na equipa que, a 28 de Setembro, se estreia nos distritais da AF Porto, num jogo com o Paradela. Talvez com Vinha e outras glórias não tão antigas como isso.
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